Opinião
Editorial: O dia da mãe de todas as liberdades
03.05.2009 - 17h02 Nuno Pacheco
Hoje, data em que se assinala o Dia da Mãe, celebra-se também o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que é, em sentido lato, a mãe de todas as liberdades. Larry Kilman, num editorial publicado no site da WAN (World Association of Newspapers), recordava ontem essa verdade elementar, que é partilhada por muitos: "Sem o direito a informar e a expressar-se livremente, ninguém poderá reclamar outros direitos.
Editorial: O dia da mãe de todas as liberdades
03.05.2009 - 17h02 Nuno Pacheco
Hoje, data em que se assinala o Dia da Mãe, celebra-se também o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que é, em sentido lato, a mãe de todas as liberdades. Larry Kilman, num editorial publicado no site da WAN (World Association of Newspapers), recordava ontem essa verdade elementar, que é partilhada por muitos: "Sem o direito a informar e a expressar-se livremente, ninguém poderá reclamar outros direitos.
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"Claro que a data é, quase sempre, usada para acertar contas no relatório sinistro das perdas: de direitos e de vidas. E o que devia ser pretexto para indignação acaba por, infelizmente, como sucede com a repetição mecânica do número de mortos nas guerras, pretexto para amolecer a capacidade de revolta. É diferente saber, num dado momento, que um jornalista foi abatido a sangue-frio quando empunhava uma câmara ou um microfone do que ver tal morte diluída nas estatísticas. E, nestas, sabe-se agora que em 2008, só em matéria de jornalistas assassinados, o Iraque levou a dianteira, com 14 mortos, seguido do Paquistão (sete), da Índia (sete) e das Filipinas (seis).
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Mas não se calam os jornalistas apenas matando-os e, por isso, todos os anos há uma lista de detenções que alastra pelo mundo. É outra frente de combate. Em 2008, foram detidos 673 jornalistas e, em Dezembro, 125 continuavam nas prisões, sujeitos a penas variáveis. A maior parte das detenções deu-se, sem surpresa, em África, mas os países onde os jornalistas mais continuam a cumprir penas de prisão são a China (28), Cuba (21), Birmânia (14) ou a Eritreia (13), isto para não falar de países como a Coreia do Norte, onde a imprensa livre é proibida. Há um dado novo: os blogers passaram a integrar, também, a lista dos perseguidos. O que torna óbvio que os ataques à liberdade de imprensa visam, em primeiro lugar, a liberdade de expressão de todos os cidadãos.
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Mas se os regimes corruptos, ditatoriais ou repressivos são os inimigos crónicos da liberdade de informar, será que ganharam um "aliado" temporário na crise económica? Outro relatório anual, o da Freedom House (ver pág. 16), garantia ontem que sim, afirmando que, "tanto nos países ricos, como nos países pobres, as pressões sobre a liberdade dos media crescem de todos os lados e estão a ameaçar cada vez mais os ganhos consideráveis do último quartel do século XX". Isto num quadro global em que apenas 17 por cento dos habitantes da Terra contam com imprensa livre e em que, pelo sétimo ano consecutivo, a liberdade de imprensa no mundo continuará a regredir.
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Mas há quem defenda que, mais do que a crise ou do que as pressões para garantir a difícil sustentabilidade dos media nestes tempos difíceis, será o mau jornalismo o principal coveiro do jornalismo tout court. O acesso gratuito e irrestrito à informação como ideal veio favorecer a circulação (na Internet, em ecrãs públicos, em folhas que se fazem passar por jornais) de coisas que, a coberto de informar, por vezes não passam de propaganda ou mera difusão de interesses particulares. Se a defesa do jornalismo, apesar da crise, das contenções, das reestruturações mais duras, não passar em simultâneo pela aposta intransigente na qualidade jornalística, então algo falhará no processo. E amanhã, a par dos que não têm liberdade de imprensa, estarão muitos que julgam tê-la sem na verdade a ter. Nessa altura, o mundo estará ainda mais pobre. E mais submisso.
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in PÚBLICO
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