domingo, 22 de março de 2009

O grande educador

Fernando Sobral
O Grande Educador


No século XIX, um benemérito que fizera fortuna no Brasil decidiu mandar construir 120 escolas primárias neste país.

No século XIX, um benemérito que fizera fortuna no Brasil decidiu mandar construir 120 escolas primárias neste país. Conde de Ferreira, assim se chamava, considerava que a instrução pública era fulcral e, na ausência e inépcia do Estado, deveria ser a sociedade civil a suprir essa lacuna.

Um século depois, assiste-se ao retrocesso à idade anterior ao Iluminismo. As Associações de Pais consideram que as escolas devem estar abertas 12 horas por dia. A agora inexistente ministra Maria de Lurdes Rodrigues já se declarou a favor da medida.

Compreende-se: como o Ministério dito da Educação tem como única política conhecida a avaliação dos professores, qualquer ideia, mesmo a mais lunática, merece o seu aplauso. A proposta, claro, é genial. No
fundo ela é herdeira da visão educacional leninista e estalinista: o Estado deve educar as crianças e libertar os pais, cheios de vícios burgueses, de os aturarem.

Conde de Ferreira, se voltasse a Portugal, coraria de vergonha com a sociedade civil existente. Se os alunos estiverem 12 horas na escola, e se pensarmos que cada criança dorme oito horas por dia, os pais só terão de as aturar durante quatro horas. Se lhes dermos duas ou três horas de Magalhães e de televisão temos assim formatada a educação da idade de Sócrates. Os jovens deste país estão prestes a tornar-se os "pioneiros" do século XXI.


Com esta proposta, o Estado tornar-se-á o pai e a mãe dos jovens portugueses. O seu Grande Educador. E os professores serão transformados em Pandas Kung Fu.

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