domingo, 25 de janeiro de 2009

A Crise - Ricardo Araújo Pereira



> A Crise - Ricardo Araújo Pereira
>
> Ou estou fortemente enganado (o que sucede, aliás, com uma frequência
> notável), ou a história de Portugal é decalcada da história de Pedro e o
> Lobo, com uma pequena alteração: em vez de Pedro e o Lobo, é Pedro e a
> Crise.
>
> De acordo com os especialistas ­ e para surpresa de todos os leigos,
> completamente inconscientes de que tal cenário fosse possível ­ Portugal
> está mergulhado numa profunda crise. Ao que parece, 2009 vai ser mesmo
> complicado.
>
> O problema é que 2008 já foi bastante difícil. E, no final de 2006, o
> empresário Pedro Ferraz da Costa avisava no Diário de Notícias que 2007 não
> iria ser fácil. O que, evidentemente, se verificou, e nem era assim tão
> difícil de prever tendo em conta que, em 2006, analistas já detectavam que o
> País estava em crise. Em Setembro de 2005, Marques Mendes, então presidente
> do PSD, desafiou o primeiro-ministro para ir ao Parlamento debater a crise
> económica. Nada disto era surpreendente na medida em que, de acordo com o
> Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal, entre 2004 e
> 2005, o nível de endividamento das famílias portuguesas aumentou de 78% para
> 84,2% do PIB. O grande problema de 2004 era um prolongamento da grave crise
> de 2003, ano em que a economia portuguesa regrediu 0,8% e a ministra das
> Finanças não teve outro remédio senão voltar a pedir contenção. Pior que
> 2003, só talvez 2002, que nos deixou, como herança, o maior défice
> orçamental da Europa, provavelmente em consequência da crise de 2001, na
> sequência dos ataques terroristas aos Estados Unidos. No entanto, segundo o
> professor Abel M. Mateus, a economia portuguesa já se encontrava em crise
> antes do 11 de Setembro.
>
> A verdade é que, tirando aqueles seis meses da década de 90 em que chegaram
> uns milhões valentes vindos da União Europeia, eu não me lembro de Portugal
> não estar em crise. Por isso, acredito que a crise do ano que vem seja
> violenta. Mas creio que, se uma crise quiser mesmo impressionar os
> portugueses, vai ter de trabalhar a sério. Um crescimento zero, para nós, é
> amendoins. Pequenas recessões comem os portugueses ao pequeno-almoço. 2009
> só assusta esses maricas da Europa que têm andado a crescer acima dos 7 por
> cento. Quem nunca foi além dos 2%, não está preocupado.
>
> É tempo de reconhecer o mérito e agradecer a governos atrás de governos que
> fizeram tudo o que era possível para não habituar mal os portugueses. A
> todos os executivos que mantiveram Portugal em crise desde 1143 até hoje,
> muito obrigado. Agora, somos o povo da Europa que está mais bem preparado
> para fazer face à crise.

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