Agrupamento Vertical de Escolas Dr. Garcia Domingues (Silves) boicota ESTA avaliação inútil
Uma clara maioria de professores do Agrupamento Vertical de Escolas Dr. Garcia Domingues, Silves, decidiu em planério geral de professores, realizado no passado dia 28 de Outubro, solicitar a suspensão do actual processo avaliativo.
Desta decisão, resultou a convocação de uma reunião extraordinária do Conselho Pedagógico onde, com 13 votos a favor (duas abstenções e um voto contra), se decidiu pela não avaliação dos docentes do Agrupamento até ao início do 2º Período, altura em que será reavaliada a situação.
Os nossos motivos seguem na moção (em anexo), mas gostaríamos de reafirmar 3 pontos muito claros:
1º) Somos frontalmente a favor de uma avaliação que premeie a "excelência" da classe e que, por outro lado, identifique claramente os pontos a melhorar no desempenho da nossa profissão e que aponte soluções para corrigir essas situações.
Dito por outras palavras, não queremos preencher papéis inúteis, queremos saber como podemos ser melhores professores!
2º) Somos contra esta avaliação que, entre muitos outros pontos aberrantes, considera a questão do "abandono escolar" na avaliação docente, a qual se fica a dever, na esmagadora maioria dos casos, a condicionantes sociais que escapam ao controlo da escola;
3º) Não aceitamos uma avaliação hipócrita do "faz de conta", do género "vamos lá preencher a tabelinha para termos todos Bom", inútil na melhoria do ensino público português e que apenas serve para passar a imagem para a opinião pública de que, ao avaliar deste forma os professores, o Ministério estará a contribuir para a melhoria da qualidade do ensino em Portugal.
Leiam o texto desabafo que se segue e utilizem a nossa moção da melhor forma que entenderem. Esta luta é pela nossa dignidade e pelos nossos alunos!
Façam da nossa força a vossa força!
«Primeiro, eles vieram buscar os comunistas.
Desta decisão, resultou a convocação de uma reunião extraordinária do Conselho Pedagógico onde, com 13 votos a favor (duas abstenções e um voto contra), se decidiu pela não avaliação dos docentes do Agrupamento até ao início do 2º Período, altura em que será reavaliada a situação.
Os nossos motivos seguem na moção (em anexo), mas gostaríamos de reafirmar 3 pontos muito claros:
1º) Somos frontalmente a favor de uma avaliação que premeie a "excelência" da classe e que, por outro lado, identifique claramente os pontos a melhorar no desempenho da nossa profissão e que aponte soluções para corrigir essas situações.
Dito por outras palavras, não queremos preencher papéis inúteis, queremos saber como podemos ser melhores professores!
2º) Somos contra esta avaliação que, entre muitos outros pontos aberrantes, considera a questão do "abandono escolar" na avaliação docente, a qual se fica a dever, na esmagadora maioria dos casos, a condicionantes sociais que escapam ao controlo da escola;
3º) Não aceitamos uma avaliação hipócrita do "faz de conta", do género "vamos lá preencher a tabelinha para termos todos Bom", inútil na melhoria do ensino público português e que apenas serve para passar a imagem para a opinião pública de que, ao avaliar deste forma os professores, o Ministério estará a contribuir para a melhoria da qualidade do ensino em Portugal.
Leiam o texto desabafo que se segue e utilizem a nossa moção da melhor forma que entenderem. Esta luta é pela nossa dignidade e pelos nossos alunos!
Façam da nossa força a vossa força!
«Primeiro, eles vieram buscar os comunistas.
Não disse nada, pois não era comunista;
Depois, vieram buscar os judeus.
Nada disse, pois não era judeu;
Em seguida, foi a vez dos operários.
Continuei em silêncio, pois não era sindicalizado;
Mais tarde, levaram os católicos.
Nem uma palavra pronunciei, pois não sou católico.
Agora, eles vieram-me buscar a mim,
e quando isso aconteceu, não havia mais ninguém para protestar».
Bertold Brecht
Colegas e amigos,
Há momentos na história de um país em que é criminoso ficar calado. Em relação ao futuro da educação pública em Portugal, vivemos um desses raros momentos que a história nos concede...
Comecei a dar aulas há 10 anos. Ao longo destes 10 anos, senti sempre saudades da escola durante o mês de Agosto. Este ano, pela primeira vez, não!
De há 10 anos a esta parte, que assisto à degradação do ensino, à institucionalização da mediocridade! Para tudo, a resposta é só uma, ano após ano: mais e mais papel! Mais do que a degradação da nossa profissão, assusta-me assistir impávido e sereno a como nos conformamos, ano após ano, em baixar os níveis de exigência a um mínimo indecente.
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E, para tudo isto, a solução é sempre mais uma "tabela", uma "grelha", uma "planificação", uma "justificação"...Não interessa se a planificação é para cumprir ou se é útil, interessa que fique arquivada. Não interessa se a "justificação" é útil e necessária, o que importa é que ela exista para nos "protegermos"...Dos pais e dos inspectores, esse papões!
Não concordamos, mas preenchemos na mesma! Não concordamos, mas há muito que interiorizámos a cultura do medo e de não questionar...Aumenta a indisciplina? Não faz mal, faz-se mais um papel; Os alunos não aprendem? Não faz mal, faz-se mais um papel; É necessário avaliar os senhores professores? Não faz mal, faz-se mais um papel!
Basta de "cultura do medo" (dos pais, dos recursos, da inspecção,...)! É necessário uma cultura de amor próprio, de amor pela profissão e pelo simples acto de ensinar.
Claro que algum tipo de avaliação dos professores é necessário e urgente! Sobretudo se tiver como objectivo melhorar a qualidade do ensino...Não estamos todos cansados de quem, entre nós, é indigno de ostentar o nome de "professor"? E será que esta avaliação vai permitir corrigir essas situações, os erros individuais de cada um de nós ou até algum "defeito corporativo" da classe? Será que esta avaliação contribuirá para melhorar aquilo que os nossos alunos efectivamente aprendem?
Ela não se destina a ajudar os professores a melhorar as suas prestações e auxiliar, desse modo, os nosso alunos. Não se destina a "punir" os medíocres ou a premiar a "excelência"...
O que o ministério pretende é que entremos na perigosa jogada da hipocrisia...Para eles apenas interessa passar a mensagem ao país: "Estamos a avaliar os professores, estamos a aumentar o grau de exigência e de rigor do ensino!"
E nós, que sabemos ser falso, pactuamos! Vamos a manifestações ao Sábado gritar "palavras de ordem" e na Segunda preenchemos as grelhas inúteis que nos impingem?!
Ou seja, no fundo não concordamos com esta avaliação para professores. No entanto, parecemos estar dispostos a pactuar com ela quando nos deixamos arrastar para uma lógica, do tipo:
"Eu não concordo com esta avaliação, nem lhe vejo qualquer capacidade de melhorar o actual estado das coisas, mas vamos pactuar com ela na esperança que não dê em nada...Vamos levar isto sem ser muito a sério, fazemos todos os objectivos mínimos de modo a termos todos "bom" e, pronto, está o assunto arrumado!"
E quando quisermos ensinar aos nosso filhos e alunos a importância de nunca sermos hipócritas, o que faremos?! Olhamos para o chão e coramos de vergonha!
Das duas uma: Ou temos a coragem de assumir que não concordamos com esta avaliação e recusamo-nos a cumpri-la; ou temos a coragem de assumir que concordamos com ela e cumprimos tudo a 100%, com todas as implicações deste acto.
Não me obriguem é a aceitar situações intermédias, por medo ou cobardia. Com coragem a favor ou com coragem contra!
Exliquem-me: em que é que esta avaliação vai contribuir para premiar a excelência dos professores? Em nada! Em que é que esta avaliação vai contribuir para melhorar a qualidade do ensino? Em nada!
E então,vamos pactuar hipocritamente com algo em que não acreditamos?! E porquê? Por medo?!
Eu também tenho medo...Sobretudo de um dia olhar para o espelho e perceber que traí os ideais a que me comprometi defender quando abracei esta profissão!
Poderei eu exigir aos meus alunos que sejam honestos e rigorosos e, ao mesmo tempo, pactuar com uma avaliação que acho nefasta para a minha profissão? Expliquem-me, que eu não percebo!
Claro que eu sei que há coisas que estão mal no ensino por culpa nossa. Sou capaz de enumerar algumas. Infelizmente, nenhuma delas será resolvida com este processo que nos querem impor...
À ministra não interessa promover a excelência, porque esta é sempre perigosa para o poder. Porque pensa, porque não obedece cegamente, porque questiona, porque não se dobra e porque, quando é chegada a hora, sabe sempre dizer que "não" e de forma digna.
À ministra interessa que nos rendamos à cultura "de não criar ondas", à "cultura do medo", "à cultura da tabelazinha", à "cultura das aparências", no fundo, à "cultura do Bom"!
Não contem comigo para isso! Se tenho medo? Claro que sim, só um louco não teria...Também me preocupa o futuro, as contas por pagar e a minha carreira...Mas interessa-me mais o futuro dos meus alunos, a minha dignidade como profissional e ser humano e a minha consciência.
Não peço que pensem como eu e que me sigam pelas minhas ideias. Sigam a vossa consciência, que eu sigo a minha... Mas se, tal como eu, sentirem que existe um limite para o tamanho dos "sapos" que conseguem engolir, juntem-se a este protesto pacífico na defesa do ensino público português.
Porque "há sempre alguém que resiste,
há sempre alguém que diz não".
Obrigado.
Pedro Nuno Teixeira Santos, orgulhosamente professor
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