sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Imaginem...por Mário Crespo

Imaginem
00h30m


Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do
Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados.


Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade.
Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.


Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais
baratos e que reduziam as suas dotações de combustíve em dez por cento.


Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento
também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões
de crédito das empresas. Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado
para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram
usados em funções do Estado.


Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e
passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público. Imaginem que
gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e
não se quer reformar. Imaginem que os gestores públicos do passado, que são
os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam
uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões.
Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam,
todos, muito acima dos mil contos por mês.


Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha. Imaginem que o faziam por
consciência. Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas
públicas. Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se
criavam. Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas
creches e nos lares. Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para
reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de
saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por
uma operação às cataratas.


Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos
no serviço nacional de saúde. Imaginem a segurança que os municípios podiam
comprar com esses dinheiros. Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem
paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada. Imaginem as pensões
que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido. Imaginem
IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à
velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.


Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar
dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura
de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete
empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de Fernando
Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente
dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas.


Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão
prejuízo. Imaginem que País podíamos ser se o fizéssemos. Imaginem que País
seremos se não o fizermos.


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