Nos EUA fabricaram uma máquina que apanha gatunos.
Testaram-na em New York: e em 5 minutos apanhou 1500 gatunos;
Levaram-na para África do Sul: e em 3 minutos apanhou 3500;
No Brasil: em 2 minutos apanhou 6000 gatunos;
Trouxeram-na para Portugal: e num minuto, roubaram a máquina!
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
O valor da máquina
Actualidade em caricaturas...
Ofício enviado à Ministra da Educação - Plataforma Sindical
Suspensão da aplicação do processo de avaliação
Senhora Ministra,
Um mês após o início das aulas, os professores e educadores debatem-se com uma inegável realidade sobre a implementação do novo modelo de avaliação de professores, que se tem tornado numa impossibilidade crescente da sua aplicação prática nas escolas. Acresce que, em resultado desta dificuldade preocupante, a mesma tende a não observar os níveis mínimos de equidade e tem constituído um factor de turbulência, o que torna impossível assegurar o normal funcionamento das escolas no domínio da sua principal missão que é o ensino.
Estas afirmações da Plataforma Sindical dos Professores justificam-se no seguinte conjunto de razões:
• Desde logo a enorme complexidade do modelo, sujeito a leituras tão difusas quanto distantes entre si e que nem o próprio Ministério da Educação consegue explicar devidamente
• Dentro desta complexidade, a instalação do modelo revela-se morosa, muito divergente nos ritmos que as escolas conseguem encontrar e dificultada ainda pela falta de informação cabal e inequívoca às perguntas que vão, naturalmente, aparecendo
• Por outro lado, decorrente de bizarras concepções do papel de quem avalia, as decorrentes do próprio modelo e outras ligadas ao universo de avaliadores que o ME definiu, está já latente um clima de contestação à indigitação destes, registando-se em muitos casos uma inversão de papeis no binómio avaliador- avaliado
• A maioria dos itens constantes das fichas não são passíveis de ser universalizados. Alguns só se aplicam a um número reduzido de professores. Outros, pelo seu grau de subjectividade, ressentem-se de um problema estrutural – não existem quadros de referência em função dos quais seja possível promover a objectividade da avaliação do desempenho
• As questões colocadas anteriormente assumem um papel fundamental nas arbitrariedades que se têm sucedido porque, o modelo centra-se nas responsabilidades individuais e não no contributo para o desenvolvimento de uma cultura de avaliação
Acresce, ao que antes se referiu, o facto de o Conselho Científico para a Avaliação dos Professores se encontrar bloqueado e sem coordenação, o que significa que não existe qualquer acompanhamento efectivo da aplicação que não seja o que é feito pela DGRHE. Também a Comissão Paritária se tem resumido a ser um espaço em que a administração educativa se limita a impor as suas interpretações, não tendo sido dada resposta positiva às situações apresentadas pelos Sindicatos.
Por outro lado, o Ministério da Educação está em vias de cometer irregularidades, pois ao propor na Lei do Orçamento de Estado, a isenção de publicação em DR das delegações de competências dos avaliadores, não faz mais do que excepcionar, com um único objectivo, um problema decorrente de uma Lei Geral e universal, invertendo de facto e de direito, a hierarquização das leis e fora da sua sede própria, que seria a revisão do Código do Procedimento Administrativo para efeitos da revogação do modo de delegação de competências. De outra forma estaremos à margem das regras de um estado de direito democrático.
Pelas razões referidas, a Plataforma Sindical dos Professores considera necessária a suspensão do processo de avaliação, desde já, e numa altura em que cresce o número de escolas que, por motu proprio, suspendem todo o processo ou, simplesmente, o mantêm parado. Tal suspensão permitirá:
1. recentrar a atenção dos professores naquela que é a sua primeira e fundamental missão – ensinar;
2. permitir, assim, que os professores se preocupem prioritariamente com quem devem – os seus alunos;
3. antecipar, em alguns meses, a reflexão sobre as vulnerabilidades incontornáveis do actual modelo de avaliação de desempenho e consequente negociação de um modelo em que os professores se revejam e nele sintam segurança e justeza na avaliação;
4. dirigir as energias das partes contratuais (ME/Sindicatos) para a problematização e renegociação dos principais eixos da política educativa deste Governo, que inclui, inevitavelmente, o Estatuto da Carreira Docente, entre outros aspectos da mais elevada importância para o sistema educativo.
Como é evidente, da suspensão deste processo não poderão decorrer quaisquer prejuízos para os professores, pelo que os sindicatos que constituem a Plataforma Sindical dos Professores manifestam a sua disponibilidade para que sejam encontradas as soluções adequadas que garantam a normal progressão dos professores na carreira, dado não lhes serem imputáveis os problemas com que se deparam e para cujas consequências, hoje bem visíveis e sentidas, tiveram a preocupação de alertar em tempo oportuno.
Com os melhores cumprimentos,
A Plataforma Sindical dos Professores
Hoje à noite vai haver reunião dos Movimentos de Professores
Hoje à noite em Sintra vai haver reunião dos movimentos independentes de Professores. O comunicado conjunto assinado entre os movimentos de professores e a Fenprof estará naturalmente em cima da mesa. A questão das manifestações de dia 8 e de dia 15 de Novembro também. Hoje é a noite de todas as decisões, pelo menos para Novembro.
http://www.franciscotrindade.blogspot.com/Ladrão do livro inédito de Miguel Sousa Tavares candidato a Nobel por serviços à literatura
Ladrão do livro inédito de Miguel Sousa Tavares candidato a Nobel por serviços à literatura
http://www.inepcia.com/
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
AGE!!!
Por nós e pelos nossos!
LISTA ACTUALIZADA DAS ESCOLAS RESISTENTES
Agrupamento de Aristides de Sousa Mendes - Póvoa de Santa Iria
Agrupamento de Escolas António José De Almeida -Penacova
Agrupamento de Escolas Clara de Resende - Porto
Agrupamento de Escolas Conde de Ourém – Ourém
Agrupamento de Escolas Coura e Minho - Caminha
Agrupamento de Escolas D. Carlos I - Resende
Agrupamento de Escolas D. Carlos I - Sintra
Agrupamento de Escolas D. Manuel de Faria e Sousa – Felgueiras
Agrupamento de Escolas D. Miguel de Almeida – Abrantes
Agrupamento de Escolas da Maceira – Leiria
Agrupamento de Escolas de Alvide - Cascais
Agrupamento de Escolas de Aradas - Aveiro
Agrupamento de Escolas de Armação de Pêra - Algarve
Agrupamento de Escolas de Aveiro
Agrupamento de Escolas de Castro Daire
Agrupamento de Escolas de Forte da Casa - Lisboa
Agrupamento de Escolas de Lousada Oeste
Agrupamento de Escolas de Marrazes - Leiria
Agrupamento de Escolas de Ovar
Agrupamento de Escolas de S. Julião Da Barra - Oeiras
Agrupamento de Escolas de Vila do Bispo - Algarve
Agrupamento de Escolas de Vila Nova de Poiares
Agrupamento de Escolas de Vila Nova de Santo André - Santiago do Cacém
Agrupamento de Escolas de Vouzela
Agrupamento de Escolas José Maria dos Santos - Pinhal Novo
Agrupamento de Escolas Nº1-Beja
Agrupamento de Escolas Nuno Álvares Pereira – Camarate
Agrupamento de escolas Pedro de Santarém - Lisboa
Agrupamento de Escolas Ribeiro Sanches – Penamacor
Agrupamento Vertical Clara de Resende - Porto
Agrupamento Vertical da Senhora da Hora - Porto
Agrupamento Vertical de Escolas de Gueifães – Maia
Agrupamento Vertical de Escolas Dr. Garcia Domingues – Silves
Agrupamento Vertical Escolas de Azeitão
Declaração da Demissão de Avaliador do Prof. José Maria Barbosa Cardoso
Departamento de Expressões da Escola Eugénio de Castro - Coimbra
Departamento de Expressões da Escola Secundária Filipa de Vilhena - Porto
Departamento de História, Filosofia e E.M.R. da Escola Secundária de Odivelas
Escola Alice Gouveia - Coimbra
Escola Básica 1 de Santa Maria de Beja - Demissão do Conselho Executivo e de todos os Órgãos intermédios
Escola Básica 2, 3 da Abelheira - Viana do Castelo
Escola Básica 2, 3 Frei Bartolomeu dos Mártires - em Viana do Castelo
Escola Básica 2,3/Secundário de Celorico da Beira
Escola Básica 2/3 António Fernandes de Sá - Gervide
Escola Básica 2/3 de Tortosendo
Escola Básica 2/3 de Lijó
Escola Básica Frei André da Veiga - Santiago do Cacém
Escola EB23 Dr. Rui Grácio - Sintra
Escola Eugénio de Castro - Coimbra
Escola Fernando Lopes-Graça, Parede - Cascais
Escola Jaime Magalhães Lima - Aveiro
Escola Martim de Freitas - Coimbra
Escola Secundária Alcaides de Faria - Barcelos
Escola Secundária Augusto Gomes - Matosinhos
Escola Secundária Avelar Brotero - Coimbra
Escola secundária c/ 3ª ciclo Camilo Castelo Branco - Vila Real
Escola Secundária c/ 3ª ciclo Manuel da Fonseca - Santiago do Cacém
Escola Secundária c/ 3º CEB Madeira Torres - Torres Vedras
Escola Secundária c/ 3º ciclo de Barcelinhos
Escola Secundária c/ 3º Ciclo de Madeira Torres - Torres Vedras
Escola Secundária c/ 3º ciclo Rainha Santa Isabel - Estremoz
Escola Secundária Camões - Lisboa (Demissão da maioria dos professores Avaliadores n/Coordenadores)
Escola Secundária Campos-Melo - Covilhã
Escola Secundária D. João II - Setúbal
Escola Secundária da Amadora - Sintra
Escola Secundária da Amora
Escola Secundária da Reboleira - Amadora
Escola Secundária de Albufeira - Algarve (Abaixo-assinado)
Escola Secundária de Arganil
Escola Secundária de Camões - Lisboa (Declaração de Demissão da maioria dos professores Avaliadores n/ Coordenadores)
Escola Secundária de Francisco Rodrigues Lobo - Leiria
Escola Secundária de Miraflores - Oeiras
Escola Secundária de Montemor-o-Novo
Escola Secundária de Sebastião da Gama - Setúbal
Escola Secundária de Vila Verde
Escola Secundária Dom Manuel Martins - Setúbal
Escola Secundária Dona Maria - Coimbra
Escola Secundária Dr. Júlio Martins - Aveiro
Escola Secundária Emídio Navarro - Viseu
Escola Secundária Ferreira de Castro
Escola Secundária Ferreira Dias - Santiago do Cacém
Escola Secundária Infanta D. Maria – Coimbra
Escola Secundária Jaime Magalhães Lima / Aveiro
Escola Secundária Monte da Caparica - Lisboa
Escola Secundária Montemor-o-Novo
Escola Secundária Rio Tinto
Escola Secundária Seomara da Costa Primo - Amadora
Escola Secundária/3 De Barcelinhos (Conselho Pedagógico Suspende Avaliação)
Escolas do Concelho de Chaves (9 escolas)
Para aceder aos documentos, clique aqui.
O estado do Portugal de Sócrates
Mais uma...
Resistências: Agrupamento De Escolas Do Concelho De Vila Do Bispo
Requerimento
Os professores do Agrupamento de Escolas do Concelho da Vila do Bispo reunidos em Plenário no dia 21 de Outubro de 2008, pelas 18 horas, consideram o seguinte, tendo em conta o desenrolar do processo de avaliação do desempenho:
Todos os professores apoiam uma avaliação de desempenho que sirva para a efectiva melhoria das aprendizagens dos alunos e para uma verdadeira valorização do seu trabalho de professores e educadores – o que não acontece com o presente modelo.
Todos os professores consideram que os resultados dos seus alunos não dependem exclusivamente do trabalho individual de cada professor, ainda que dedicado e persistente mas, e também, do conselho de turma (tal como preconiza a legislação em vigor) e sobretudo do contexto económico, social e cultural de cada aluno.
Os professores avaliadores não sentem legitimidade científica e pedagógica para procederem à avaliação do trabalho dos seus pares, atendendo à diversidade disciplinar criada pelos novos mega departamentos e à falta da respectiva formação em supervisão pedagógica.
Os professores estão de tal maneira submergidos no processo de avaliação, que se encontram sem tempo para se dedicarem aos seus alunos como antes, embora trabalhando muitas mais horas que as 35h de lei, sem qualquer reconhecimento salarial ou profissional.
A componente de trabalho individual dos professores deixa muito pouco tempo para a preparação das aulas e restantes tarefas dirigidas aos alunos. A obrigatoriedade de permanência na escola durante muitas horas semanais, em condições precárias de trabalho, impede que as tarefas mais importantes dos professores sejam feitas de forma eficaz.
Os professores consideram que o ME não cumpriu a sua parte neste processo, já que, entre outros factos, não conseguiu pôr no terreno os necessários inspectores para a avaliação dos coordenadores, tal como preconizou.
Os professores consideram pois necessário um tempo de preparação, reflexão e esclarecimento das seguintes dúvidas:
Como é possível começar a avaliar se a formação ainda não terminou ou em muitos casos começou sequer ?
Como é possível avaliar cientificamente professores de áreas diferentes do avaliador ?
Devem, sim ou não, ser incluídos indicadores de medida na definição dos objectivos individuais ?
Como é que os objectivos de acordo com a lei, podem ser "referência essencial" na classificação dos professores ?
Como é que os professores podem avaliar imparcialmente os seus alunos, quando são parte interessada nessa avaliação, nos termos do Código de Procedimento Administrativo?
Porque é que a avaliação externa influencia a avaliação de desempenho, quando apenas algumas disciplinas e ciclos são sujeitas a exame ou prova nacional ?
Como gerir os elementos não observáveis na observação de aulas ?
Como se avalia a relação com a comunidade ?
Como se pode avaliar doze colegas de departamento quando o avaliador apenas dispõe de três horas lectivas no seu horário de trabalho ?
Como é que um avaliador que já cumpre horário em duas partes do dia, manhã e tarde, vai avaliar colegas que apenas leccionam à noite ?
Não havendo tempo para cumprir todas as tarefas de professor e avaliado ou avaliador, o que é prioritário, as tarefas dirigidas aos alunos ou as da avaliação ?
Como é que a classificação, de acordo com as recentes intenções manifestadas pelo ME em matérias de concurso docente, pode vir a condicionar a graduação profissional ?
Como é que um processo que se pretende comum a todos os professores pode assumir carácter tão diverso de escola para escola ?
Como é que uma educadora não titular, mas em situação de equiparada a titular, pode avaliar uma colega titular de um Conselho Executivo, órgão que também tem a incumbência de a avaliar a ela ?
Os professores requerem pois a suspensão do processo de avaliação do desempenho docente até verem esclarecidas todas as dúvidas acima mencionadas, pela incapacidade de todos em continuarem a ser professores e executores deste processo sem grave prejuízo das suas tarefas mais importantes e relevantes.
Fonte: A Sinistra Ministra
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
ASSINA CONTRA O ECD IMPOSTO PELO M.E.
Assina em:
http://www.fenprof.pt/AbaixoAssinado/RevogaECD
E DIVULGA!
Carta a José Sócrates -
Sr. Engº José Sócrates,
Antes de mais, peço desculpa por não o tratar por Excelência nem por
Primeiro-Ministro, mas, para ser franca, tenho muitas dúvidas quanto
ao facto de o senhor ser excelente e, de resto, o cargo de
primeiro-ministro parece-me, neste momento, muito pouco dignificado.
Também queria avisá-lo de antemão que esta carta vai ser longa, mas
penso que não haverá problema para si, já que você é do tempo em que o
ensino do Português exigia grandes e profundas leituras. Ainda pensei
em escrever tudo por tópicos e com abreviaturas, mas julgo que lhe faz
bem recordar o prazer de ler um texto bem escrito, com princípio, meio
e fim, e que, quiçá, o faça reflectir (passe a falta de modéstia).
Gostaria de começar por lhe falar do 'Magalhães'. Não sobre os erros
ortográficos, porque a respeito disso já o seu assessor deve ter
recebido um e-mail meu. Queria falar-lhe da gratuitidade, da
inconsequência, da precipitação e da leviandade com que o senhor
engenheiro anunciou e pôs em prática o projecto a que chama de
e-escolinha.
O senhor fala em Plano Tecnológico e, de facto, eu tenho visto a
tecnologia, mas ainda não vi plano nenhum. Senão, vejamos a cronologia
dos factos associados ao projecto 'Magalhães':
. No princípio do mês de Agosto, o senhor engenheiro apareceu na
televisão a anunciar o projecto e-escolinhas e a sua ferramenta: o
portátil Magalhães.
. No dia 18 de Setembro (quinta-feira) ao fim do dia, o meu filho traz
na mochila um papel dirigido aos encarregados de educação, com apenas
quatro linhas de texto informando que o 'Magalhães' é um projecto do
Governo e que, dependendo do escalão de IRS, o seu custo pode variar
entre os zero e os 50 euros. Mais nada! Seguia-se um formulário com
espaço para dados como nome do aluno, nome do encarregado de educação,
escola, concelho, etc. e, por fim, a oportunidade de assinalar, com
uma cruzinha, se pretendemos ou não adquirir o 'Magalhães'.
. No dia 22 de Setembro (segunda-feira), ao fim do dia, o meu filho
traz um novo papel, desta vez uma extensa carta a anunciar a visita,
no dia seguinte, do primeiro-ministro para entregar os primeiros
'Magalhães' na EB1 Padre Manuel de Castro. Novamente uma explicação
respeitante aos escalões do IRS e ao custo dos portáteis.
. No dia 23 de Setembro (terça-feira), o meu filho não traz mais
papéis, traz um 'Magalhães' debaixo do braço.
Ora, como é fácil de ver, tudo aconteceu num espaço de três dias úteis
em que as famílias não tiveram oportunidade de obter esclarecimentos
sobre a futura utilização e utilidade do 'Magalhães'. Às perguntas que
colocámos à professora sobre o assunto, ela não soube responder.
Reunião de esclarecimento, nunca houve nenhuma.
Portanto, explique-me, senhor engenheiro: o que é que o seu Governo
pensou para o 'Magalhães'? Que planos tem para o integrar nas aulas?
Como vai articular o seu uso com as matérias leccionadas? Sabe, é que
50 euros talvez seja pouco para se gastar numa ferramenta de trabalho,
mas, decididamente, e na minha opinião, é demasiado para se gastar num
brinquedo. Por favor, senhor engenheiro, não me obrigue a concluir que
acabei de pagar por uma inutilidade, um capricho seu, uma manobra de
campanha eleitoral, um espectáculo de fogo de artifício do qual só
sobra fumo e o fedor intoxicante da pólvora.
Seja honesto com os portugueses e admita que não tem plano nenhum.
Admita que fez tudo tão à pressa que nem teve tempo de esclarecer as
escolas e os professores. E não venha agora dizer-me que cabe aos pais
aproveitarem esta maravilhosa oportunidade que o Governo lhes deu e
ensinarem os filhos a lidar com as novas tecnologias. O seu projecto
chama-se e-escolinha, não se chama e-familiazinha! Faça-lhe jus!
Ponha a sua equipa a trabalhar, mexa-se, credibilize as suas
iniciativas!
Uma coisa curiosa, senhor engenheiro, é que tudo parece conspirar a
seu favor nesta sua lamentável obra de empobrecimento do ensino
assente em medidas gratuitas.
Há dias arrisquei-me a ver um episódio completo da série Morangos com
Açúcar. Por coincidência, apanhei precisamente o primeiro episódio da
nova série que significa, na ficção, o primeiro dia de aulas daquela
miudagem. Ora, nesse primeiro dia de aulas, os alunos conheceram a sua
professora de matemática e o seu professor de português. As imagens
sucediam-se alternando a aula de apresentação de matemática por
contraposição à de português. Enquanto a professora de matemática
escrevia do quadro os pressupostos da sua metodologia - disciplina,
rigor e trabalho - o professor de português escrevia no quadro os
pressupostos da sua - emoção, entrega e trabalho. Ora, o que me faz
espécie, senhor engenheiro, é que a personagem da professora de
matemática é maldosa, agressiva e antiquada, enquanto que o professor
de português é um tipo moderno e bué de fixe. Então, de acordo com os
princípios do raciocínio lógico, se a professora de matemática é
maldosa e agressiva e os seus pressupostos são disciplina e rigor,
então a disciplina e o rigor são coisas negativas. Por outro lado, se
o professor de português é bué de fixe, então os pressupostos da
emoção e da entrega são perfeitos. E de facto era o que se via.
Enquanto que na aula de matemática os alunos bufavam, entediados, na
aula de português sorriam, entusiasmados.
Disciplina e rigor aparecem, assim, como conceitos inconciliáveis com
emoção e entrega, e isto é a maior barbaridade que eu já vi na minha
vida. Digo-o eu, senhor engenheiro, que tenho uma profissão que vive
das emoções, mas onde o rigor é 'obstinado', como dizem os poetas. Eu
já percebi que o ensino dos dias de hoje não sabe conciliar estes dois
lados do trabalho. E, não o sabendo, optou por deixar de lado a
disciplina e o rigor. Os professores são obrigados a acreditar que
para se fazer um texto criativo não se pode estar preocupado com os
erros ortográficos. E que para se saber fazer uma operação aritmética
não se pode estar preocupado com a exactidão do seu resultado. Era o
que faltava, senhor engenheiro!
Agora é o momento em que o senhor engenheiro diz de si para si: mas
esta mulher é um Velho do Restelo, que não percebe que os tempos
mudaram e que o ensino tem que se adaptar a essas mudanças? Percebo,
senhor engenheiro. Então não percebo? Mas acontece que o que o senhor
engenheiro está a fazer não é adaptar o ensino às mudanças, você está
a esvaziá-lo de sentido e de propósitos. Adaptar o ensino seria afinar
as metodologias por forma a torná-las mais cativantes aos olhos de uma
geração inquieta e voltada para o imediato. Mas nunca diminuir, nunca
desvalorizar, nunca reduzir ao básico, nunca baixar a bitola até ao
nível da mediocridade.
Mas, por falar em Velho do Restelo...
... Li, há dias, numa entrevista com uma professora de Literatura
Portuguesa, que o episódio do Velho do Restelo foi excluído do estudo
d'Os Lusíadas. Curioso, porque este era o episódio que punha tudo em
causa, que questionava, que analisava por outra perspectiva, que é
algo que as crianças e adolescentes de hoje em dia estão pouco
habituados a fazer. Sabem contrariar, é certo, mas não sabem
questionar. São coisas bem diferentes: contrariar tem o seu quê de
gratuito; questionar tem tudo de filosófico. Para contrariar, basta
bater o pé. Para questionar, é preciso pensar.
Tenho pena, porque no meu tempo (que não é um tempo assim tão
distante), o episódio do Velho do Restelo, juntamente com os de Inês
de Castro e da Ilha dos Amores, era o que mais apaixonava e empolgava
a turma. Eram três episódios marcantes, que quebravam a monotonia do
discurso de engrandecimento da nação e que, por isso, tinham o mérito
de conseguir que os alunos tivessem curiosidade em descodificar as
suas figuras de estilo e desbravar o hermetismo da linguagem. Ainda
hoje me lembro exactamente da aula em que começámos a ler o episódio
de Inês de Castro e lembro-me das palavras da professora Lídia,
espicaçando-nos, estimulando-nos, obrigando-nos a pensar. E foi há 20
anos.
Bem sei que vivemos numa era em que a imagem se sobrepõe à palavra,
mas veja só alguns versos do episódio de Inês de Castro, veja que
perfeita e inequívoca imagem eles compõem:
'Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano d'alma ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito (...)'
Feche os olhos, senhor engenheiro, vá lá, feche os olhos. Não consegue
ver, perfeitamente desenhado e com uma nitidez absoluta, o rosto
branco e delicado de Inês de Castro, os seus longos cabelos soltos
pelas costas, o corpo adolescente, as mãos investidas num qualquer
bordado, o pensamento distante, vagueando em delícias proibidas no
leito do príncipe? Não vê os seus olhos que de vez em quando escapam
às linhas do bordado e vão demorar-se na janela, inquietos de saudade,
à espera de ver D. Pedro surgir a galope na linha do horizonte? E
agora, se se concentrar bem, não vê uma nuvem negra a pairar sobre
ela, não vê o prenúncio do sangue a escorrer-lhe pelos fios de cabelo?
Não consegue ver tudo isto apenas nestes quatro versos?
Pois eu acho estes quatro versos belíssimos, de uma simplicidade
arrebatadora, de uma clareza inesperada. É poesia, senhor engenheiro,
é poesia! Da mais nobre, grandiosa e magnífica que temos na nossa
História. Não ouse menosprezá-la. Não incite ninguém a desrespeitá-la.
Bem, admito que me perdi em divagações em torno da Inês de Castro. O
que eu queria mesmo era tentar perceber porque carga de água o Velho
do Restelo desapareceu assim. Será precisamente por estimular a
diferença de opiniões, por duvidar, por condenar? Sabe, não tarda
muito, o episódio da Ilha dos Amores será também excluído dos
conteúdos programáticos por 'alegado teor pornográfico' e o de Inês de
Castro igualmente, por 'incitamento ao adultério e ao desrespeito pela
autoridade'.
Como é, senhor engenheiro? Voltamos ao tempo do 'lápix' azul?
E já agora, voltando à questão do rigor e da disciplina, da entrega e
da emoção: o senhor engenheiro tem ideia de quanta entrega e de quanta
emoção Luís de Camões depôs na sua obra? E, por outro lado, o senhor
engenheiro duvida da disciplina e do rigor necessários à sua
concretização? São centenas e centenas de páginas, em dezenas de
capítulos e incontáveis estrofes com a mesma métrica, o mesmo tipo de
rima, cada palavra escolhida a dedo... o que implicou tudo isto senão
uma carga infinita de disciplina e rigor?
Senhor engenheiro José Sócrates: vejo que acabo de confiar o meu
filho ao sistema de ensino onde o senhor montou a sua barraca de circo
e não me apetece nada vê-lo transformar-se num palhaço. Bem, também
não quero ser injusta consigo. A verdade é que as coisas já começaram
a descarrilar há alguns anos, mas também é verdade que você está a
sobrealimentar o crime, com um tirinho aqui, uma facadinha ali, uma
desonestidade acolá.
Lembro-me bem da época em que fiz a minha recruta como jornalista e
das muitas vezes em que fui cobrir cerimónias e eventos em que você
participava. Na altura, o senhor engenheiro era Secretário de Estado
do Ambiente e andava com a ministra Elisa Ferreira por esse Portugal
fora, a inaugurar ETAR's e a selar aterros. Também o vi a plantar
árvores, com as suas próprias mãos. E é por isso que me dói que agora,
mais de dez anos depois, você esteja a dar cabo das nossas sementes e
a tornar estéreis os solos que deveriam ser férteis.
Sabe, é que eu tenho grandes sonhos para o meu filho. Não, não me
refiro ao sonho de que ele seja doutor ou engenheiro. Falo do sonho de
que ele respeite as ciências, tenha apreço pelas artes, almeje a
sabedoria e valorize o trabalho. Porque é isso que eu espero da
escola. O resto é comigo.
Acho graça agora a ouvir os professores dizerem sistematicamente aos
pais que a família deve dar continuidade, em casa, ao trabalho que a
escola faz com as crianças. Bem, se assim fosse eu teria que ensinar o
meu filho a atirar com cadeiras à cabeça dos outros e a escrever as
redacções em linguagem de sms. Não. Para mim, é o contrário: a escola
é que deve dar continuidade ao trabalho que eu faço com o meu filho.
Acho que se anda a sobrevalorizar o papel da escola. No meu tempo, a
escola tinha apenas a função de ensinar e fazia-o com competência e
rigor. Mas nos dias que correm, em que os pais não têm tempo nem
disposição para educar os filhos, exige-se à escola que forme o seu
carácter e ocupe todo o seu tempo livre. Só que infelizmente ela tem
cumprido muito mal esse papel.
A escola do meu tempo foi uma boa escola. Hoje, toda a gente sabe que
a minha geração é uma geração de empreendedores, de gente criativa e
com capacidade iniciativa, que arrisca, que aposta, que ambiciona. E
não é disso que o país precisa? Bem sei que apanhámos os bons ventos
da adesão à União Europeia e dos fundos e apoios que daí advieram, mas
isso por si só não bastaria, não acha? E é de facto curioso: tirando o
Marco cigano, que abandonou a escola muito cedo, e a Fatinha que
andava sempre com ranhoca no nariz e tinha que tomar conta de três
irmãos mais novos, todos os meus colegas da primária fizeram alguma
coisa pela vida. Até a Paulinha, que era filha da empregada (no meu
tempo dizia-se empregada e não auxiliar de acção educativa, mas,
curiosamente, o respeito por elas era maior), apesar de se ter ficado
pelo 9º ano, não descansou enquanto não abriu o seu próprio Pão Quente
e a ele se dedicou com afinco e empenho. E, no entanto, levámos
reguadas por não sabermos de cor as principais culturas das
ex-colónias e éramos sujeitos a humilhação pública por cada erro
ortográfico. Traumatizados? Huuummm... não me parece. Na verdade,
senhor engenheiro, tenho um respeito e uma paixão pela escola tais
que, se tivesse tempo e dinheiro, passaria o resto da minha vida a
estudar.
Às vezes dá-me para imaginar as suas conversas com os seus filhos (nem
sei bem se tem um ou dois filhos...) e pergunto-me se também é válido
para eles o caos que o senhor engenheiro anda a instalar por aí.
Parece que estou a ver o seu filho a dizer-lhe: ó pai, estou com
dificuldade em resolver este sistema de três equações a três
incógnitas... dás-me uma ajuda? E depois, vejo-o a si a responder com
a sua voz de homilia de domingo: não faz mal, filho... sabes escrever
o teu nome completo, não sabes? Então não te preocupes, é
perfeitamente suficiente...
Vendo as coisas assim, não lhe parece criminoso o que você anda a fazer?
E depois, custa-me que você apareça em praça pública acompanhado da
sua Ministra da Educação, que anda sempre com aquele ar de infeliz, de
quem comeu e não gostou, ambos com o discurso hipócrita do mérito dos
professores e do sucesso dos alunos, apoiados em estatísticas cuja
real interpretação, à luz das mudanças que você operou, nos apresenta
uma monstruosa obscenidade. Ofende-me, sabe? Ofende-me por me tomar
por estúpida.
Aliás, a sua Ministra da Educação é uma das figuras mais
desconcertantes que eu já vi na minha vida. De cada vez que ela fala,
tenho a sensação que está a orar na missa de sétimo dia do sistema de
ensino e que o que os seus olhos verdadeiramente dizem aos pais deste
Portugal é apenas 'os meus sentidos pêsames'.
Não me pesa a consciência por estar a escrever-lhe esta carta. Sabe, é
que eu não votei em si para primeiro-ministro, portanto estou à
vontade. Eu votei em branco. Mas, alto lá! Antes que você peça ao seu
assessor para lhe fazer um discurso sobre o afastamento dos jovens da
política, lembre-se, senhor engenheiro: o voto em branco não é o voto
da indiferença, é o voto da insatisfação! Mas, porque vos é
conveniente, o voto em branco é contabilizado, indiscriminadamente,
com o voto nulo, que é aquele em que os alienados desenham macaquinhos
e escrevem obscenidades.
Você, senhor engenheiro, está a arriscar-se demasiado. Portugal está
prestes a marcar-lhe uma falta a vermelho no livro de ponto. Ah...
espere lá... as faltas a vermelho acabaram... agora já não há
castigos...
Bem, não me vou estender mais, até porque já estou cansada de repetir
'senhor engenheiro para cá', 'senhor engenheiro para lá'. É que o meu
marido também é engenheiro e tenho receio de lhe ganhar cisma.
Esta carta não chegará até si. Vou partilhá-la apenas e só com os meus
E-leitores (sim, sim, eu também tenho os meus eleitores) e talvez só
por causa disso eu já consiga hoje dormir melhor. Quanto a si, tenho
dúvidas.
Para terminar, tenho um enorme prazer em dedicar-lhe, aqui, uma
estrofe do episódio do Velho do Restelo. Para que não caia no
esquecimento. Nem no seu, nem no nosso.
'A que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias? '
Atenciosamente e ao abrigo do artigo nº 37 da Constituição da
República Portuguesa,
Uma mãe preocupada
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Loucura generalizada - publico 16-10-08
Exemplo de uma Escola de Chaves
Na Escola Secundária António Granjo, em Chaves, os professores, por unanimidade, abandonaram as reuniões de departamento onde se discutiam as diferentes fichas de avaliação de desempenho. Tomaram esta atitude por discordarem deste modelo de avaliação. Esta decisão ficou lavrada em todas as actas. E se o exemplo dos professores da Escola Secundária António Granjo, em Chaves, for seguido em todo o país? Nem será preciso que o movimento atinja o país todo. Basta que um punhado de escolas e agrupamentos faça o mesmo. É simples: basta aprovarem uma resolução a suspenderem os trabalhos invocando falta de tempo, falta de formação ou excesso de complexidade das fichas. De seguida, os professores, quer sejam avaliadores ou não, devem entregar nas secretarias das escolas e agrupamentos requerimentos a solicitar esclarecimentos sobre o processo de avaliação de desempenho. São duas estratégias simples que, combinadas, paralisam todo o processo de avaliação de desempenho. Por exemplo, quem teve formação específica sobre como preencher a ficha de objectivos individuais? Ninguém teve. É razoável e perfeitamente compreensível que os professores entreguem requerimentos, nas secretarias das escolas, a pedirem esclarecimentos sobre como se preenche a ficha. Entretanto os PCEs enviam os requerimentos para cima. Enquanto os esclarecimentos não chegarem, ninguém adianta nada. E o processo de avaliação de desempenho pára. Isto é tão evidente e tão claro que só não entendo como é que os professores ainda não começaram a usar estas duas estratégias. | |||
A ministra sem currículo
de Infância
dos cursos de promoção (de 2 anos e em horário
pós-laboral), com
apenas o 9º ano (5º ano) de escolaridade, passaram do 7º
escalão para
o topo da carreira, com este governo!!!!! Com uma Madrinha
destas…palavras para quê?!!!!! e ainda vão ser
avaliadores de quem tem
maior currículo académico e profissional!!!! E esta
hein?!!!!!!
Sabiam? "Não sirvas a quem serviu, nem peças a quem
pediu."…
Interessante é ver como em Portugal um Professor que NUNCA
FOI
AVALIADO chega ao topo da Carreira Docente (Ministra da
Educação!) e
se põe a disparar em todos os sentidos contra os Profs.
não-avaliados.
Vejamos, a Drª Maria de Lurdes tirou o antigo 5º
(5º!-actual 9º) ano e
ingressou no Magistério Primário (naquele tempo eram dois
anos de
curso). Deu aulas na Primária até se inscrever no ISCTE
(com o 5ºano+2
anos de Mag. Primário!). Ao fim de 5 (CINCO) anos de
estudos em curso
nocturno, sai com um DOUTORAMENTO que lhe permitiu dar
aulas(?!) no
ISCTE, por acaso onde o sr. Engenheiro (Sócrates) fez a
pós-graduação
(mestrado?) a seguir à "licenciatura" da UNI.
Digam lá que não lhe deu
um certo jeito nunca ser PROFESSORA AVALIADA! Do outro lado
da
barricada, também era CONTRA a avaliação dos
Professores, não era Drª
Maria de Lurdes? Pelo menos o seu ex-Professor Iturra diz
que sim…e
ainda nenhum ex-aluno veio aqui para os fóruns gabar-lhe
os dotes
docentes!
Não teremos mesmo melhor? Os professores poderão lidar
com os alunos
como a Srª lida com os professores? Exigir-lhes tudo
ensinando pouco e
com tão parco exemplo?
http://www.luisnovo.com/blog/archives/275
domingo, 26 de outubro de 2008
Suspender agora esta avaliação dos Professores
>
> Suspender agora esta avaliação dos Professores é um serviço que se
> presta ao ensino público neste País
>
>
> "Suspender o processo de avaliação desde já, e numa altira em que
> cresce o número de escolas que, opor motu proprio, suspendem todo o
> processo, permitirá", entre outros aspectos, "recentrar a atenção dos
> professores naquela que é a sua primeira e funmdamental missão -
> ensinar", sublinha a declaração lida por Mário Nogueira, na tarde de
> 24 de Outubro (sexta-feira), na conferência de imprensa convocada pela
> Plataforma Sindical.
>
> Esclarece, desde logo, o documento entregue e comentado aos jornalistas:
> Os sindicatos de professores já o tinham anunciado, na declaração para
> a acta que consumou o "memorando de entendimento" que firmaram com o
> ME em Março deste ano: "a Plataforma Sindical dos Professores, no que
> à avaliação diz respeito, reafirma o seu desacordo com o modelo
> imposto pelo ME, reafirma, ainda, que os pressupostos base da actual
> situação de profundo conflito em nada alteram as divergências de fundo
> que as organizações sindicais mantêm …".
>
> Ora, o conflito atrás referido, serenado que foi até ao final do ano
> lectivo anterior, reacende-se de imediato, e mais forte ainda, quando
> os professores se apercebem da verdadeira dimensão do "monstro" que
> têm pela frente. Não é, infelizmente, o único motivo mas será, estamos
> seguros, o que mais pesa na ideia cada vez mais sedimentada de que
> assim não se pode ser professor.
>
> De facto, bastou um mês de aulas para todos os professores e
> educadores terem claro que este modelo não é capaz sequer de ser
> instalado, quanto mais aplicado com um mínimo de equidade.
>
> A Plataforma destaca em seguida um conjunto de razões que justificam
> aquela afirmação.
>
> Desde logo a enorme complexidade do modelo, sujeito a leituras tão
> difusas quanto distantes entre si e que nem o próprio Ministério da
> Educação consegue explicar devidamente.
> Dentro desta complexidade, a instalação do modelo revela-se morosa,
> muito divergente nos ritmos que as escolas conseguem encontrar e
> dificultada ainda pela falta de informação cabal e inequívoca às
> perguntas que vão, naturalmente, aparecendo
>
> Por outro lado, decorrente de bizarras concepções do papel de quem
> avalia, as decorrentes do próprio modelo e outras ligadas ao universo
> de avaliadores que o ME definiu, está já latente um clima de
> contestação à indigitação destes, registando-se em muitos casos uma
> inversão de papeis no binómio avaliador-avaliado.
>
> A maioria dos itens constantes das fichas não são passíveis de ser
> universalizados. Alguns só se aplicam a um número reduzido de
> professores. Outros, pelo seu grau de subjectividade, ressentem-se de
> um problema estrutural - não existem quadros de referência em função
> dos quais seja possível promover a objectividade da avaliação do
> desempenho
>
> Suspender é uma atitude
> de responsabilidade
>
> A Plataforma Sindical realça ainda:
> As questões colocadas anteriormente assumem um papel fundamental nas
> arbitrariedades que se têm sucedido porque, o modelo centra-se nas
> responsabilidades individuais e não no contributo para o
> desenvolvimento de uma cultura de avaliação
>
> Assim, suspender o processo de avaliação desde já, e numa altura em
> que cresce o número de escolas que, por motu proprio, suspendem todo o
> processo, permitirá, como sublinha Plataforma:
>
> 1. Recentrar a atenção dos professores naquela que é a sua primeira e
> fundamental missão - ensinar
>
> 2. Permitir assim que os professores se preocupem prioritariamente com
> quem devem - os seus alunos
>
> 3. Antecipar em alguns meses a negociação de um outro modelo de
> avaliação do desempenho docente, quando já estão em circulação outras
> propostas, radicalmente diferentes e surgidas do meio sindical
>
> 4. Dirigir as energias das partes contratuais (ME/Sindicatos) para a
> problematização e renegociação dos principais eixos da desastrosa
> política educativa deste Governo, que incluem, inevitavelmente o
> Estatuto da Carreira Docente e a gestão e administração das escolas.
>
> Enquanto que para a Ministra, de acordo com declarações recentes
> citadas na comunicação social, pedir a suspensão da avaliação é uma
> "infantilidade", para a Plataforma Sindical, o acto de supensão deste
> burocrático processo de avaliação será uma atitude de
> responsabilidade, como destacou Mário Nogueira, secretário-geral da
> FENPROF.Tal como será também uma atitude de responsabilidade, desde já
> vincada pelos sindicatos, a proposta de arranque de um processo
> negocial apontado a um sistema de avaliação coerente e adequado ao
> trabalho dos professores.
>
Caro anónimo indignado com a indignação dos professores...
HÁ MAIS GENTE A PENSAR NO MESMO QUE NÓS!
Caro anónimo indignado com a indignação dos professores...
Caro anónimo indignado com a indignação dos professores, homens (e as mulheres) não se medem aos palmos, medem-se, entre outras coisas, por aquilo que afirmam, isto é, por saberem ou não saberem o que dizem e do que falam.
O caro anónimo mostra-se indignado (apesar de não aceitar que os professores também se possam indignar! Dualidade de critérios deste nosso estimado anónimo... Mas passemos à frente) com o excesso de descanso dos professores: afirma que descansamos no Natal, no Carnaval, na Páscoa e no Verão, (esqueceu-se de mencionar que também descansamos aos fins-de-semana). E o nosso prezado anónimo insurge-se veementemente contra tão desmesurada dose de descanso de que os professores usufruem e de que, ao que parece, ninguém mais usufrui.
Ora vamos lá ver se o nosso atento e sagaz anónimo tem razão. Vai perdoar-me, mas, nestas coisas, só lá vamos com contas.
O horário semanal de trabalho do professor é 35 horas. Dessas trinta e cinco, 11 horas (em alguns casos até são apenas dez) são destinadas ao seu trabalho individual, que cada um gere como entende. As outras 24 horas são passadas na escola, a leccionar, a dar apoio, em reuniões, em aulas de substituição, em funções de direcção de turma, de coordenação pedagógica, etc., etc.
Bom, centremo-nos naquelas 11 horas que estão destinadas ao trabalho que é realizado pelo professor fora da escola (já que na escola não há quaisquer condições de o realizar): preparação de aulas, elaboração de testes, correcção de testes, correcção de trabalhos de casa, correcção de trabalhos individuais e/ou de grupo, investigação e formação contínua. Agora, vamos imaginar que um professor, a quem podemos passar a chamar de Simplício, tem 5 turmas, 3 níveis de ensino, e que cada turma tem 25 alunos (há casos de professores com mais turmas, mais alunos e mais níveis de ensino e há casos com menos - ficamos por uma situação média, se não se importar). Para sabermos o quanto este professor trabalha ou descansa, temos de contar as suas horas de trabalho.
Vamos lá, então, contar:
1. Preparação de aulas: considerando que tem duas vezes por semana cada uma dessas turmas e que tem três níveis diferentes de ensino, o professor Simplício precisa de preparar, no mínimo, 6 aulas por semana (estou a considerar, hipoteticamente, que as turmas do mesmo nível são exactamente iguais -- o que não acontece -- e que, por isso, quando prepara para uma turma também já está a preparar para a outra turma do mesmo nível). Vamos considerar que a preparação de cada aula demora 1 hora. Significa que, por semana, despende 6 horas para esse trabalho. Se o período tiver 14 semanas, como é o caso do 1.º período do presente ano lectivo, o professor gasta um total de 84 horas nesta tarefa.
2. Elaboração de testes: imaginemos que o prof. Simplício realiza, por período, dois testes em cada turma. Significa que tem de elaborar dez testes. Vamos imaginar que ele consegue gastar apenas 1 hora para preparar, escrever e fotocopiar o teste (estou a ser muito poupado, acredite), quer dizer que consome, num período, 10 horas neste trabalho.
3. Correcção de testes: o prof. Simplício tem, como vimos, 125 alunos, isto implica que ele corrige, por período, 250 testes. Vamos imaginar que ele consegue corrigir cada teste em 25 minutos (o que, em muitas disciplinas, seria um milagre, mas vamos admitir que sim, que é possível corrigir em tão pouco tempo), demora mais de 104 horas para conseguir corrigir todos os testes, durante um período.4. Correcção de trabalhos de casa: consideremos que o prof. Simplício só manda realizar trabalhos para casa uma vez por semana e que corrige cada um em 10 minutos. No total são mais de 20 horas (isto é, 125 alunos x 10 minutos) por semana. Como o período tem 14 semanas, temos um resultado final de mais de 280 horas.
5. Correcção de trabalhos individuais e/ou de grupo: vamos pensar que o prof. Simplício manda realizar apenas um trabalho de grupo, por período, e que cada grupo é composto por 3 alunos; terá de corrigir cerca de 41 trabalhos. Vamos também imaginar que demora apenas 1 hora a corrigir cada um deles (os meus colegas até gargalham, ao verem estes números tão minguados), dá um total de 41 horas.
6. Investigação: consideremos que o professor dedica apenas 2 horas por semana a investigar, dá, no período, 28 horas (2h x 14 semanas).
7. Acções de formação contínua: para não atrapalhar as contas, nem vou considerar este tempo.
Vamos, então, somar isto tudo:
84h+10h+104h+280h+41h+28h=547 horas.
Multipliquemos, agora, as 11horas semanais que o professor tem para estes trabalhos pelas 14 semanas do período: 11hx14= 154 horas.
Ora 547h-154h=393 horas. Significa isto que o professor trabalhou, no período, 393 horas a mais do que aquelas que lhe tinham sido destinadas para o efeito.
Vamos ver, de seguida, quantos dias úteis de descanso tem o professor no Natal.
No próximo Natal, por exemplo, as aulas terminam no dia 18 de Dezembro. Os dias 19, 22 e 23 serão para realizar Conselhos de Turma, portanto, terá descanso nos seguintes dias úteis: 24, 26, 29 30 e 31 de Dezembro e dia 2 de Janeiro. Total de 6 dias úteis. Ora 6 dias vezes 7 horas de trabalho por dia dá 42 horas. Então, vamos subtrair às 393 horas a mais que o professor trabalhou as 42 horas de descanso que teve no Natal, ficam a sobrar 351 horas. Quer dizer, o professor trabalhou a mais 351 horas!! Isto em dias de trabalho, de 7 horas diárias, corresponde a 50 dias!!! O professor Simplício tem um crédito sobre o Estado de 50 dias de trabalho. Por outras palavras, o Estado tem um calote de 50 dias para com o prof. Simplício.
Pois é, não parecia, pois não, caro anónimo? Mas é isso que o Estado deve, em média, a cada professor no final de cada período escolar.
Ora, como o Estado somos todos nós, onde se inclui, naturalmente, o nosso prezado anónimo, (pressupondo que, como nós, tem os impostos em dia) significa que o estimado anónimo, afinal, está em dívida para com o prof. Simplício. E ao contrário daquilo que o nosso simpático anónimo afirmava, os professores não descansam muito, descansam pouco!
Veja lá os trabalhos que arranjou: sai daqui a dever dinheiro a um professor. Mas, não se incomode, pode ser que um dia se encontrem e, nessa altura, o amigo paga o que deve.
Um abraço,
sábado, 25 de outubro de 2008
Apelo
A instabilidade que se vive nas escolas, por conta das políticas deste Ministério da Educação, e a desfiguração da escola pública, exigem, mais do que nunca, um movimento de professores forte e unido. Os sindicatos de professores são fundamentais para dar força e combatividade aos anseios e reivindicações da classe docente. Igualmente indispensáveis são os movimentos e blogues de professores que surgiram no último ano e que têm dado novas esperanças e dinâmicas na luta por uma escola mais justa. Porque juntos os professores têm mais força para combater as políticas burocráticas e arrogantes do governo, apelamos ao diálogo entre sindicatos e movimentos para que, sem apagar as suas diferenças, convirjam numa grande manifestação de professores. Uma só manifestação, uma só voz, pelo fim do experimentalismo legislativo e pela qualificação da escola pública, e pelo fim da humilhação dos professores que são o seu rosto. Assim: - apelamos aos sindicatos para que reconsiderem a sua posição face ao Memorando de Entendimento assinado com o Ministério da Educação, e que criem condições de abertura à activa participação dos movimentos, reconhecendo as suas reivindicações e prevendo o seu direito à palavra na manifestação nacional de 8 de Novembro. - apelamos aos movimentos para que, garantidas as condições anteriores, desconvoquem a manifestação de 15 de Novembro e participem na mobilização para a manifestação de 8 de Novembro. Paulo Guinote (Professor, autor do blogue "A Educação do Meu Umbigo") |
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
SUSPENSÃO IMEDIATA DA AVALIAÇÃO
Bloco de Esquerda recomenda ao Governo a suspensão do processo de Avaliação de Desempenho e a adopção faseada de um novo modelo de Avaliação de Escolas e Docentes, formativo, integrado e participado.
(Projecto de Resolução dirigido à Ministra da Educação, a 20 de Outubro de 2008)
A aplicação ao universo de docentes, no corrente ano lectivo, do modelo de Avaliação de Desempenho, enquadrado pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008, veio confirmar as piores suspeitas quanto à sua natureza intrinsecamente complexa, morosa, desadequada e ambígua.
É hoje evidente que a forma não negociada e a incoerência técnica do modelo, afogando as instituições em actividades e rotinas que, não só não são entendidas, como prejudicam o trabalho com os alunos, é responsável pela desestabilização generalizada das escolas portuguesas. É hoje indesmentível que este processo impraticável está a provocar danos profundos no quotidiano das escolas, com graves consequências para a qualidade das práticas de ensino e aprendizagem.
Por outro lado, à complexidade e burocracia do processo imposto pelo Ministério da Educação acresce a não atribuição às escolas e aos docentes de condições efectivas de trabalho para a sua implementação, mormente através da disponibilização de horas para o efeito.
A experiência de "avaliação teste", realizada pelo Agrupamento de Escolas D. João II, em Santarém, estima que um estabelecimento de ensino com 130 professores requer um total de 1.560 horas por ano para implementar o processo de avaliação vigente. Um número de horas que, como se torna claro, não está totalmente enquadrado nos horários dos professores, agravando assim a já dramática situação da sobrecarga a
que estes se encontram, na maior parte dos casos, sujeitos, face à estimativa de cerca de 45 horas semanais efectivamente dedicadas à escola.
Mas os factores de destabilização e estrangulamento das escolas públicas através deste modelo de avaliação multiplicam-se. Há empresas contratadas para a avaliação de professores. Há fichas de avaliação para todos os gostos, consoante as decisões de cada escola e dos seus órgãos dirigentes; fichas de dezenas e dezenas de páginas, atestando a falência técnica deste modelo. Há escolas cujos Presidentes de Conselho Executivo sonegam o acesso às fichas de avaliação. Há casos de critérios ocultos para a atribuição de "Excelentes" e "Muito Bons", como o acompanhamento de alunos pelos professores durante a hora de almoço, ou para apoios, que deveriam ser contemplados na componente lectiva. Mas há outros critérios bem visíveis e postos no papel como a obrigatoriedade de o professor ultrapassar em 7% as metas definidas pela escola, quando esta situa o limiar de sucesso em 85% e 90%.
O autoritarismo do Ministério da Educação e a total ausência de regulação do processo de avaliação têm despertado atitudes despóticas e autocráticas, comportamentos fundados em razões subjectivas e discricionárias, instalando-se um clima de medo e perseguição. O Ministério da Educação ignora ou pactua.
O modelo instiga fortemente à complexificação, que se traduz num crescente artificialismo, desviando a avaliação dos mais elementares princípios de equidade, justiça e universalidade, numa afronta acrescida à dignidade dos professores, que abandona precocemente o ensino a um ritmo jamais visto.
Mas todas estas práticas são, afinal, o fruto da raiz de um modelo que se afirmou desvirtuado pela ausência de credibilidade e verdade desde a sua origem.
De facto, o modelo de avaliação de desempenho docente não consegue mascarar as evidências: é um modelo barato e estrangulador da progressão, é mais uma rolha para além do congelamento das carreiras.
A avaliação entre pares, estabelecendo um sistema hierárquico artificial, através da distinção entre professores titulares e professores não titulares, dá lugar a situações inverosímeis que descredibilizam o próprio processo e lhe retiram qualquer legitimidade. O exemplo sublime desta incongruência é o caso de alunos orientados em estágios pedagógicos que se encontram neste momento a proceder à avaliação dos que foram os seus orientadores, formadores e avaliadores.
Um outro aspecto conceptual relevante, que cauciona gravemente a credibilidade do próprio modelo, aponta para a inclusão dos resultados dos alunos no resultado da avaliação de cada docente, enfatizando assim o entendimento – claramente subjacente ao modelo – segundo o qual o sucesso educativo depende exclusivamente do professor. O peso do aproveitamento dos alunos no resultado da avaliação dos professores, que atinge na generalidade dos casos 7% do valor final obtido (podendo atingir os 10%), constitui um perverso convite à distorção de práticas e processos, colocando os professores perante dilemas moralmente inaceitáveis, inspirados numa clara pressão para a obtenção de sucesso educativo a todo o custo.
Consciente dos factores críticos que decorriam do próprio modelo adoptado, bem como da obsessão do governo em proceder à sua acelerada e irresponsável implementação, o próprio Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP), nomeado pelo Ministério da Educação através do Decreto Regulamentar n.º 4/2008, de 5 de Fevereiro, veio recentemente (num relatório datado de Julho de 2008), denunciar o reducionismo decorrente da vinculação excessiva dos resultados dos alunos ao desempenho docente, lembrando que "a utilização dos resultados escolares e a análise da sua evolução, para efeitos de avaliação de desempenho, não deve desligar-se do contexto particular da turma e dos seus alunos, nem limitar-se, de forma alguma, a uma mera leitura estatística dos resultados", acrescentando que, "no contexto da complexidade do processo de aprendizagem, não é possível determinar e aferir com rigor até que ponto a acção de determinado docente foi exclusivamente responsável pelos resultados obtidos, conforme a literatura científica consensualmente refere".
No mesmo relatório (Princípios orientadores sobre a organização do processo de Avaliação do Desempenho Docente), e numa clara concretização das fundadas preocupações quanto à apressada e autocrática implementação do modelo vigente, o CCAP alerta expressamente o Ministério da Educação quanto ao "risco de a avaliação se constituir num acto irrelevante para o desenvolvimento profissional dos docentes, sem impacto na melhoria das aprendizagens dos alunos, que conviria evitar desde o início", advertindo acrescidamente para o que – neste início de ano lectivo – retrata fielmente a realidade quotidiana das nossas escolas, traduzida no sufoco da "burocratização excessiva, [na] emergência ou reforço de conflitualidades desnecessárias e [no] desvio das finalidades formativas e reguladoras que um processo de avaliação do desempenho profissional deve conter".
Um governo socialmente responsável e consciente jamais teria permitido que a obstinada teimosia da actual equipa do Ministério da Educação tornasse necessário demonstrar, pela prática, as incongruências, contradições e irregularidades do modelo em vigor, que carece não só do devido cumprimento da legalidade em muitos dos mecanismos estabelecidos (sobretudo quanto ao cumprimento de normas elementares do Código de Procedimento Administrativo), mas que deveria igualmente revestir-se da necessária credibilidade e relevância, exigidas pelo próprio sistema educativo e pela sociedade portuguesa, tendo em consideração as finalidades a que o mesmo deveria incontornavelmente subordinar-se.
O actual modelo de avaliação de desempenho de professores constitui, de facto, pela sua manifesta falta de credibilidade e pela perturbação profunda em que mergulhou as escolas no corrente ano lectivo, um atentado à qualidade da educação e à dignidade dos agentes educativos, que reclamam justamente a sua imediata suspensão.
Na sequência dos fundamentos e propostas apresentados através do Projecto de Resolução n.º 288/X, de 11 de Março de 2008, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda reafirma uma vez mais, com a razão que o tempo e a realidade vieram dar à proposta então apresentada, a imperiosa necessidade de, uma vez suspenso o actual modelo de avaliação de desempenho, ser estabelecido um plano faseado e participado de implementação de um modelo de avaliação de desempenho de escolas e docentes cuja relevância, coerência, justiça e credibilidade sejam amplamente reconhecidas pela comunidade educativa e pela sociedade em geral.
Assim, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda recomenda ao Governo:
1. A suspensão imediata do processo de avaliação de desempenho de professores do ensino básico e secundário, de modo a restaurar nas escolas as condições de tranquilidade, necessárias ao normal desenvolvimento dos processos educativos;
2. O desenvolvimento de um modelo assente numa lógica faseada e experimental, como o que se propõe nos pontos seguintes, capaz de articular de modo consistente e coerente o processo de avaliação de escolas com o processo de avaliação de docentes, relevando o cumprimento de alguns princípios fundamentais para a credibilidade dos processos de avaliação, entre os quais:
a) A consagração dos princípios de equidade, justiça e universalidade, inerentes ao sistema público de educação;
b) A articulação entre processos de autoavaliação e avaliação externa, mediada pela caracterização de contextos educativos e pela identificação de recursos necessários à prossecução de metas e objectivos;
c) A desvinculação absoluta dos resultados dos alunos da avaliação individual dos docentes.
3. Em conformidade com os princípios e requisitos enunciados, o modelo faseado de avaliação das escolas deverá prosseguir as seguintes etapas e processos:
a) Aprofundar e acelerar o processo em curso de avaliação externa das escolas, integrando e reforçando questões relativas à caracterização do meio em as mesmas se inserem e a práticas e experiências de avaliação;
b) No âmbito deste processo, propõe-se a divulgação, até ao final do ano lectivo 2008/09, do relatório de avaliação externa, contemplando o maior número possível de escolas, que deverá identificar as boas práticas e aferir o peso das diferentes variáveis no combate ao insucesso e na melhoria da cultura de escola;
c) Até ao final do ano lectivo em curso, as escolas elaboram um plano estratégico de promoção do sucesso educativo e combate ao abandono escolar, partindo dos seus contextos de pertença, levantando os recursos considerados necessários e identificando metodologias, objectivos e metas;
d) Assumindo que o sucesso educativo é, antes de mais, uma missão de equipa, cuja responsabilidade não cabe a cada professor, individualmente considerado, as escolas procedem no ano lectivo de 2009/2010 à sua autoavaliação;
e) A autoavaliação das escolas parte da avaliação do trabalho desenvolvido por cada um dos seus órgãos colegiais (os diferentes conselhos) e obriga à publicitação dos resultados obtidos face às metas e recursos apresentados no início do ano; esta vertente de avaliação será inserida no quadro mais amplo da autoavaliação da escola, do qual cabe relatório, publicitado e debatido, quer no âmbito das estruturas da área pedagógica afim, quer perante a comunidade;
f) Até ao final do ano lectivo de 2009/2010, o Ministério da Educação e todos os parceiros, incluindo as estruturas sindicais, associações profissionais e demais organizações de professores, bem como estruturas representativas das famílias, de profissionais de áreas afins, definem, a partir de um amplo espaço de discussão, o modelo mais eficaz de avaliação individual de docentes, tendo em conta a sua responsabilidade social e pública, bem como a sua permanente inserção em contexto.
4. A definição do modelo de avaliação individual de professores assumirá as críticas e contributos já enunciados, mormente:
a) O desajustamento da periodicidade da avaliação imposta pelo Ministério da Educação e a sua substituição pelo período de cada escalão de progressão;
b) A necessidade de estabelecer as adequadas condições de avaliação, quer para avaliadores quer para avaliados, incluindo o direito à formação gratuita e à redução parcial e ajustada do horário de trabalho;
c) A assunção do docente como sujeito construtor da sua profissionalidade e, em conformidade, como co-decisor, nomeadamente em matérias como a escolha do momento de avaliação e a modalidade de avaliação;
d) A distinção clara entre a avaliação interna e efectuada por pares, que não pode ultrapassar a vertente formativa nem produzir efeitos aceleradores ou penalizadores sobre a carreira, e a sua articulação com a avaliação externa e integrando outros parceiros, devidamente qualificados, que poderá assumir aquelas componentes.
São Bento, 20 de Outubro de 2008
Os Deputados e as Deputadas do Bloco de Esquerda
ME está à nora!
Adivinha-se o simplex para evitar o descalabro:
DGRHE cria equipas de apoio à avaliação. A ministra reunida com as equipas de apoio, no dia 17/10, admite simplificar o processo
Foi na sexta-feira passada, dia 17/10. A ministra reuniu, em Lisboa, com duas dezenas de membros das recentemente criadas "equipas de apoio à avaliação de desempenho". São 22 professores, quase todos directores ou ex-directores de CFAEs, que integram as equipas de apoio criadas pela DGRHE com a função de darem formação aos PCEs e avaliadores e acompanharem os processos de avaliação de desempenho nos agrupamentos onde houver mais dificuldades ou o processo estiver paralisado. São uma espécie de "INEM" da avaliação de desempenho ou bombeiros para todo o serviço. Doze actuam na região de Lisboa e Sul do país e dez no Centro e Norte. A reunião do dia 17/10 durou um dia inteiro e a ministra da educação esteve presente durante algumas horas, prestou esclarecimentos e deu alguns conselhos:
1. Digam aos PCEs e aos avaliadores que podem agregar os itens das fichas de avaliação de desempenho de modo a torná-las mais fáceis de preencher. Não explicou com que base legal nem os presentes tiveram a coragem ou a lucidez de fazer a pergunta.
2. Os professores que tiverem excelente não precisarão de ter aulas observadas nos próximos anos. Também não explicou com que base legal e ninguém se deu ao trabalho de perguntar.
3. As reuniões entre avaliadores e avaliados podem ter a duração que as escolas quiserem e podem, em certos casos, não se realizar. Também não indicou a base legal.
Alguns professores presentes na reunião informaram-me que a ministra da educação está disposta a aceitar a simplificação do processo e está, pela primeira vez, aberta à possibilidade de deixar cair os resultados dos alunos para efeitos da avaliação de desempenho dos professores.
O que é que isto significa?
i. O ME está em pânico com o movimento de resistência interna nas escolas. Os avaliadores e os avaliados que têm aprovado moções a pedir a suspensão do processo ou estão a solicitar esclarecimentos antes de avançarem com o processo são verdadeiros heróis e heroínas. A estratégia está a resultar. O ME está a dar sinais de quebrar.
ii. O ME está com receio de que os professores saiam à rua em proporções semelhantes às do 8 de Março. Há muitas pressões de deputados - em particular de António José Seguro, o responsável pela Comissão de Educação da AR - no sentido de o Governo se entender com os professores ao longo de 2009. Esse entendimento obrigará a um recuo do ME no processo de avaliação de desempenho.
iii. Perante isto, justifica-se que a Plataforma Sindical e a APEDE, PROmova e MUP se entendam, durante a semana que vem, de forma a agendarem uma única grande manifestação de professores que faça tremer o Governo e aumente a pressão dos deputados do PS - que naturalmente estão com medo de perderem os lugares - sobre a ministra da educação e sobre o primeiro-ministro.
O momento é demasiado crucial para que a divisão dos professores se mantenha. É preciso apagar o orgulho e o ressentimento que tomou conta dos nossos corações.