Devem-me dinheiro. Quero de volta o meu dinheiro!...
«José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E
aumentou. Deve-me dinheiro. António Mexia da EDP comprou uma sinecura
para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de
Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na
conta da luz. Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um
dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda, onde eu ia e
que fechou. E perderam-se quatro empregos. Por causa dos bónus de
Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP.
Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da
SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano. Manuel
Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou, por milhões, coisas
que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN
agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5%
das acções dos Silva. Cavaco Silva deve-me muito dinheiro.
Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e
Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milhares de
luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como da Pescanova que chega
de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma
vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou
e que eu agora pago à Mota Engil.
António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP
compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a
electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os
ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia.
A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que
ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa
três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo
o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os
impostos que deve e tenta comprar a estação de TVI que diz mal do
Primeiro-ministro.
Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o
ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI.
Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou
pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que
não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão
nada.
Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as
contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura
para as contas deste Estado. Os jornalistas que têm casas da Câmara
devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos
e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas
da Câmara , devem-me dinheiro.
Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez
estádios de futebol. Os que não trabalham porque não querem e recebem
subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que
não pagam renda de casa e deviam pagar. Jornalistas, médicos,
economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e
pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E
não têm vergonha de me dever dinheiro.
Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela
alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o
Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora, para
pagar o que devem aos flamingos e ao país, vão vendendo Portugal aos
chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes, apesar de nos
termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do
Google censurado.
Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia, não nos dão
robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotas para ir
a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar
a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque
o Tejo vem sujo. De Alcochete.
Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram
desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D.
Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um
escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao
Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das
Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão
fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da
manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o
ordenado mínimo.
Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador
do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para
pagarem. Muito mais. Já.»
(Mário Crespo, in Penthouse, Novembro de 2010)
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