No País dos Sacanas
Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas, e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice para poder funcionar fraternalmente a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais, para além das rivalidades, invejas e mesquinharias em que tanto se dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que é de heróis e santos o país, a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos, ingénuos e sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice, porque no país dos sacanas, ninguém pode entender que a nobreza, a dignidade, a independência, a justiça, a bondade, etc., etc., sejam outra coisa que não patifaria de sacanas refinados a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia. Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge de Sena
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